CAMINHOS DA VIDA, tem como objetivo registrar alguns dos artigos escritos por AIDA LUZ — militante do Racionalismo Cristão, Filial Seixal, Portugal — que com sua perspicácia, disciplina, determinação e, principalmente, sua sensibilidade aflorada tem sabido utilizar-se da pena para escrever artigos com valorosos ensinamentos, incentivando e elevando todos aqueles que buscam o crescimento espiritual.

AO NOSSO QUERIDO NETINHO "NUNO"

AO NOSSO QUERIDO NETINHO "NUNO"
EM COMEMORAÇÃO DO SEU 15º ANIVERSÁRIO

O dia de hoje tem para nós um significado muito especial. A coincidência dos 15 anos com a passagem de uma importante etapa na tua vida estudantil.


A conclusão do 9º Ano escolar é, por assim dizer, a 3ª etapa na vida do "JOVEM ESTUDANTE".

Primeiro passou a etapa da "PRÉ PRIMÁRIA", onde tudo era novidade, tudo era brincadeira, momentos que marcam uma criança para toda a vida.

Muitas vezes as lembranças dessa época ficam mais nítidas na vida do "SER HUMANO", do que outras de períodos mais recentes.

O primeiro amiguinho ou amiguinha de escola, que se espera rever com verdadeira ansiedade no fim de cada período de férias, principalmente as que intercalam dois anos escolares. É nessa altura que começam a partilhar emoções, histórias reais passadas com os pais, amigos ou familiares e às vezes até histórias fantasiadas, pois a mente infantil, é, nesse período, fortemente imaginativa.

Daí os pais, que se prezam, procurarem acompanhar seus filhos, de forma a que tenham a felicidade de usufruir de um período saudável, para mais tarde não serem adultos desajustados numa sociedade que, muitas vezes, mais parece uma selva de pedra.

É bom brincar, imaginar, mas aprender desde cedo a ter os pés bem fincados no chão.

Felizmente, foste um menino que teve a felicidade de ter um bom acompanhamento familiar e escolar. Pais e avós paternos sempre foram para ti uma presença constante.

Nós não pudemos fazer o mesmo porque, na tua primeira infância, estávamos a maior parte do tempo ausentes, em Cabo Verde. Mas isso era necessário para todos nós, pois era lá que trabalhávamos e que obtínhamos nossos proventos.

Porém queremos, tanto eu como teu avô, que nunca ponhas em dúvida o nosso amor por ti. Longe estávamos de facto, fisicamente, mas nosso pensamento estava sempre contigo, e o pensamento é tudo na vida das criaturas.

Concluída a primeira etapa, ingressaste na segunda ou seja a "PRIMÁRIA".

Nessa altura a responsabilidade passou a ser maior, mas também tu já tinhas bagagem de iniciação e deste prosseguimento ao que havias aprendido.

Felizmente o fizeste bem e chegaste ao fim dessa etapa com resultados bastante positivos. Valeu o esforço para conhecer o sabor da vitória disseste, certamente, ou pelo menos pensaste!

Ingressaste então na terceira etapa, "ENSINO SECUNDÁRIO". Aí, certamente, junto à alegria de começar um novo ciclo de aprendizagem, à curiosidade de conhecer novos métodos, novas disciplinas, novos colegas, aliou-se um friozinho na barriga, motivado pela preocupação em saber o que irias encontrar e como seriam os novos professores.

Todos nós já passamos por isso e sabemos que é assim. Um certo receio frente ao desconhecido.

Mas afinal o "fantasma" não era assim tão mau. Terias que trabalhar mais um pouquinho; dedicares mais tempo aos estudos, brincar menos... Um bocadito complicado! Sei que te deve ter custado ouvir um "não", quando querias fazer algo e te negavam porque tinhas que estudar, mas isso também não era novidade, já acontecia quando desarrumavas a casa ou fazias algo de errado.

Porém, refletindo agora com uma consciência mais abrangente, reconhecerás que valeu a pena. Tudo tem o seu preço.

Para ser um bom aluno há que estudar, fazer sacrifícios, como por exemplo não ver um filme, não jogar um jogo na TV. Enfim, ossos do ofício meu filho!

De facto tem que haver limites, mas também é certo que têm que haver períodos de brincadeira, de descontração, basta saber gerir bem o tempo.

Os próprios pais têm de saber dar uma certa liberdade, sob os seus conselhos claros, ensinando-os mesmo a trilhar novos caminhos, pois há uma certa altura em que o "passarinho tem de deixar o ninho e voar sozinho". Por isso é bom começar dando saltinhos de galho em galho para não se machucar.

Assim, a troca de diálogo aberto entre pais e filhos ajuda a que haja uma plataforma de entendimento, e, analisando a situação com ponderação, todos sairão a ganhar.

Aqui se poderá empregar aquele adágio popular, "Se bom filho és", "Bom pai serás" ou "aprender para ensinar".

É realmente assim. Quem não recebe exemplos, mais tarde não tem o que oferecer. Só muito raramente acontece uma "exceção".

Deverá haver troca de conhecimentos, pois a criança ou o jovem adolescente, aprende com os pais, mas os pais, hoje em dia, também têm muito a aprender com os filhos, que já trazem, de nascença, tendências e sentidos mais apurados, devido às novas Tecnologias, além de que têm à sua espera uma variedade muito grande de processos de aprendizagem que, no nosso tempo e dos nossos antepassados não existia.

Tenho esperança que um dia compreendas, na sua verdadeira essência, o que te estou escrevendo. Para tal é necessário não te dedicares somente à vida material, de ganhos e perdas, gozos e extravagâncias. Terás que aprender a viver paralelamente as duas vidas - "material e espiritual", aprendendo a raciocinar, a fazer escolhas certas, sem preconceitos, examinando sempre a consciência para não errar. E, se errares procurar corrigir.

A vida não é só o que está à vista. Ela é muito mais do que isso, pois, "nem só do pão vive o homem". Muitas vezes agride-nos, e, de que maneira, mas temos de ter coragem para segurar o leme, pois as próprias rosas, tão lindas e perfumadas, quando vêm até nós, trazem com elas seus espinhos.

Chegou pois a altura de escolheres o caminho que queres seguir a nível profissional. Assim, pensa bem o que queres ser, para amanhã te orgulhares de ti próprio, teres a consciência tranquila de teres refletido, escolhido teu curso de vocação, a fim de te entregares à tua profissão com isenção de interesses mesquinhos.

Se alguma vez tiveres um problema e algum de nós já não estiver sob o teu olhar para obteres um conselho, lembra-te deste simples mas verdadeiro escrito, raciocina e obterás uma resposta. Para o pensamento não existem distâncias nem barreiras e os olhos da alma enxergam melhor que os olhos físicos.

Ninguém é perfeito mas já é muito bom procurar fazer o melhor que se pode.

Os problemas existem e sempre existirão e mesmo no seio da família há divergências, mas havendo amor e compreensão, tolerância e sobretudo "VERDADE", todo o mal-entendido, toda a divergência podem ser contornados, procurando manter o núcleo familiar.

Hoje acordei lembrando o dia de teu nascimento. Fomos, teus pais e eu, para a Maternidade Alfredo da Costa, era manhã cedo ainda. Tua mãe, em caso de parto complicado, corria risco de vida, pois não podia levar anestesia. Eu havia ficado em Portugal, mais tempo do que o previsto, para vos acompanhar e dar o apoio necessário e possível.

Em Cabo Verde, teu avô esperava notícias com ansiedade, pois além da chegada do neto, havia o problema de saúde da filha.

Eu e teu pai na Maternidade. No fim da manhã, para não nos ausentarmos para longe, e, enquanto ainda estavas atrasado em vir ao Mundo, fomos a casa da tia Flávia, no Campo Grande, para nos refrescarmos, fazer uns telefonemas, dar notícias ao Avô Antão e ela não nos deixou sair sem fazer uma pequena refeição. Rapidamente nos despachamos e voltamos a correr para a Maternidade. Não havia sossego.

Em Miratejo, teus avós esperavam a chamada. De quando em vez telefonávamos a dar notícias. Por fim foram também ficar à espera, impacientes. Era melhor estar lá, do que em casa à espera.

Em minha casa tinha ficado a tia Titi e o tio Zé, de plantão, para telefonar ao teu Avô. Chegou o momento de nasceres. Teu pai concedeu-me o privilégio de assistir, pois ele estava sem coragem e achava que eu podia ser mais útil naquele momento.

Assim, quando nasceste, eu fui a primeira a ver-te junto da médica. Eu vi logo que tu tinhas o problema dos pés botos, mas não disse nada para tua mãe não ficar aflita. A médica já te havia posto em cima do peito dela, e, ela ao mesmo tempo ria e chorava e não notou nada.

Depois a médica perguntou-lhe se ela não havia dado por nada e ela disse que não e ficou aflita, mas eu e a médica sossegamo-la. A médica disse logo que ela tinha que dizer ao médico, que vos fosse ver no dia seguinte de manhã, o que se passava, para seres tratado.

Claro que eu fiquei nervosa, a tremer como se tivesse frio, pois tinha que ir dar a notícia ao teu pai, mas não o demonstrei para transmitir força à tua mãe e desde logo pensei que o problema tinha solução, pois já havia lido alguma literatura sobre o caso.

Tenho que louvar teu pai que, nem por um segundo sequer mostrou fraqueza. Viu-te e apoiou logo tua mãe, dizendo-lhe para sossegar, acariciando-a, dando-lhe força com plena convicção de que serias tratado e ficarias bem.

Quando viemos para casa, não conseguia dormir à espera das nove horas da manhã, para entrar em contacto com o nosso médico de família, para que ele falasse com o Diretor da Maternidade que, por sua vez, entraria em contacto com o Dr. Gentil Martins, para ver o que era preciso fazer.

Quando naquele dia chegamos à Maternidade, à hora da visita, já tua mãe tinha a receita pronta para mandar fazer o primeiro aparelho.

Assim, eu e teu pai, logo que saímos da Maternidade, fomos diretamente à Rua do Arco do Carvalhão, mandar fazer o aparelho para estar pronto quando saíssem da Maternidade, para ires colocá-lo no consultório do Dr. Gentil Martins.

Foram de facto momentos de alegria mas também de preocupação que, entretanto, foram ultrapassados dando mais sabor à vida. Quando se tem coragem para enfrentar e resolver os problemas que se nos deparam, eles nos fortalecem e enriquecem espiritualmente.

E pronto eis o que te queria dizer neste dia tão especial, desejando-te as maiores felicidades e coragem para vencer, todas as vicissitudes que se te depararem, numa caminhada longa e profícua.

Recordado pela Avó Materna,
Aida Almeida Lopes da Luz