Cabo Verde minha segunda Pátria amada, mãe de meu marido e de meus quatro filhos. Vibrei de emoção pelo encantamento que senti, naquela já tão distante manhã de 3 de Maio de 1956, quando meus pés pisaram teu solo pela primeira vez.
A bordo de um dos dois navios que entravam em teus portos, de 15 em 15 dias, havia já avistado a Ilha de São Vicente, que abrigava em seu seio a tão simpática cidade do Mindelo. Não pude visitá-la, pois ainda não havia cais acostável e o tempo estava mau para ir a terra de botinho a remos e/ou à vela.
Quando a noite chegou, a vontade imensa de conhecer a Ilha de Santiago e sua Cidade da Praia, que seria dali em diante minha nova morada, tomou conta dos meus sonhos, sonhos de menina com apenas 16 anos de idade...
Oh como estremeci quando no dia seguinte pude ver o navio parar ao largo, pois também não havia cais acostável e em direção a ele iam vistosos botes à vela. Não havia ainda transporte de passageiros em barcos a motor.
Quando desembarquei, pude apreciar uma cidade pequenina, limpa, bonita e povoada por gente afável, simples, alegre, de poucos recursos financeiros, mas sempre pronta a ajudar, com um sorriso no rosto, sem pressas de chegar onde quer que fosse. Naquela altura imperava a calma, o sossego, tempos que já lá vão!
Com a continuação, fui conhecendo melhor as pessoas e notava cada vez mais, como as crianças, filhos e filhas, na maioria, de empregadas domésticas e trabalhadores modestos, como serventes de obras, empregados de câmara (jornaleiros), estivadores, pescadores e outros se comportavam.
Via admirada como essas crianças, filhas de lavadeiras, cozinheiras, pintores de paredes, calceteiros, que mal sabendo ler e escrever, algumas até analfabetas, dedilhavam uma viola, um violão, faziam um verso e o declamavam ao redor das mães que lavavam roupas das freguesas no chamado “Lavadouro”, isto na Cidade da Praia, mas, nas outras ilhas, mudavam-se os nomes dos locais mas as formas de vida eram as mesmas.
Um pormenor que também chamava a atenção, era a maneira como tratavam os pais, chamando carinhosamente de Maman e Papá, hábito praticado em Portugal somente entre famílias com certas posições sócio econômicas.
Tais factos me chamaram a atenção, me fizeram pensar como tal seria possível e então via claramente, que o que eles tinham a mais do que nós, habituados na Metrópole a vidas diferentes, era sem dúvida alguma, algo que lhes vinha do espírito.
Os anos passaram e verifiquei que tinha razão, a espiritualidade nessas pessoas estava-lhes, como se costuma dizer, popularmente, à “flor da pele”.
Após a Independência, quando pudemos fundar as nossas Casas Racionalistas Cristãs, movimento do qual sinto orgulho de ter participado, ativamente, ficou evidente.
Por isso digo que vibrei convosco e cada vez vibro mais, pensando em vós, pois o corpo físico pode estar longe mas o pensamento está nessas terras, junto desse povo que considero meu também.
Gostaria de estar convosco, meus queridos irmãos em essência, mas tal não sendo possível, creiam que sempre estive, estou e estarei entre vós e neste momento de confraternização, não posso deixar de mandar meu fraternal abraço de Parabéns, com minhas vibrantes irradiações a cada um de vós e dizer-vos: “PRESENTE”.
Desta que ama muito o vosso País - Cabo Verde e suas gentes!
COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DO RC EM CABO VERDE
Aida Almeida Lopes da Luz